a minha chávena de chá

Não me lembro da primeira vez que experimentei uma chávena dessa bebida quente mas detestei. Era um sabor estranho - parecia-me água suja. Os anos passaram e o lugar-comum de que o chá é bebida para gente doente foi desaparecendo. E chegou o dia em que eu havia de re-experimentar algo que não tinah compreendido antes. Aconteceu com Pink Floyd, Madonna e Quentin Tarantino - esperei pela altura certa para gostar de tudo isto - porque haveria o chá de ser diferente?

Experimentei diferentes tipos, sabores, misturas, etc. Procurei as melhores marcas e lentamente a bebida quente entrou na minha vida.

Não passa um único dia em que eu não beba uma chávena de chá, cuidadosamente preparada (o cuidado e empenho depende sempre do estado de espírito na altura). As minhas escolhas de chá dependem de vários factores: altura do dia, condição física, estado de espírito, companhia, etc. Numa típica situação de manhã tomo English Breakfast ou outro chá forte, chá preto puro - "wake up and smell the tea". Depois de almoço prefiro Ceilão ou chá verde (com limão ou menta). A noite cai e o Earl Grey é o melhor para as horas tardias - o sabor dos citrinos suaviza o que de outra maneira seria um sabor forte.

Se estiver numa disposição mais introspectiva o Earl Grey ou Lady Grey são os melhores para a meditação - observar a água a mudar de cor enquanto atravessa as folhas; sentir o calor da chávena; o fumo a subir e a invadir a alma. Quatro minutos depois temos a minha bebida preferida. Tem algo de espiritual - podemos sentir-nos fora de nós ("je suis an autre" quando bebo o meu chá sozinho). E é por isso que adoro beber chá sozinho. O tempo que as folhas ficam na água quente, a temperatura, e a maneira como a água cai sobre as folhas é muito importante para mim. Eu sei que a maior parte das vezes não faz assim grande diferença mas eu preocupo-me com os pormenores e há um factor psicológico no meu ritual.


É como uma oração diária e como eu eu não rezo, no sentido comum da palavra, há situações em que tenho este contacto com as coisas divinas - a hora do chá é uma dessas situações.

Se tens dúvidas experimenta por ti. E da próxima vez que estiveres prestes a pedir uma bica tenta algo diferente e não desprezes as sensações e sentimentos que podes tirar de uma simples chávena de chá quando apreciada no lugar certo na hora certa.

3 comments:

Anonymous said...

Que bom, voltaste a escrever!

Ah, eu agora no Verão faço uma pausa no chá (mas nunca no café!). Digamos que o ritual fica adiado por uns meses e que as caixinhas de folhas com cheiros exóticos ficam só para decoração.

Agora fiquei com saudades do Inverno!

Anonymous said...

=) eu bebo chá até no Verão e toda a gente diz "que horror, está muito calor para beber chá"! não importa, beber chá é todo um ritual.

GoodPleasures said...

E tantos mais aromas que existem para outros tantos momentos. Uns transformados nas estações de quente para frio. O aroma mantém-se, e o prazer redobra-se

Gostei do teu blog
MP