A música liberta


En prisión..., originally uploaded by marmimuralla.


A semana passada fui tocar com a minha banda à festa de Natal de uma prisão, Caxias.
Kms de arame farpado, grades, paredes, guardas. Dois portões gigantes separam liberdade de reclusão.
Foi um choque ver como a vida ali é difícil e uma alegria contactar com pessoas que apesar de terem cometido erros (que qualquer um cometeria em iguais condições desde o nascimento até ao momento da falha) conseguem receber melhor que muitos senhores bem na vida. A verdade é que em muitos bares e festas fui mais mal tratado do que por aqueles criminosos.
Levou-me a pensar que a pena de morte é uma barbaridade, uma oportunidade deve ser sempre dada a quem falha. E a pena capital não resolve nada para a sociedade.
Na memória fica o músico de rua que elogiou tantas vezes a banda e que daqui a oito meses está fora e nos vai voltar a ver; o chefe dos guardas que adorou a bateria (embora seja mais da onda de baterias grandes, à Led Zeppelin); a directora tão simpática; a professora de música que tanto dançou; e a banda dos reclusos que tocou o "Amor neste Natal" na sua maneira muito própria. :) Não me vou esquecer do baterista que tantas vezes me ofereceu as suas baquetas e ofereceu-se para ajudar em tudo. O serralheiro que vai agora arranjar o pedal da bateria do Estabelecimento Prisional; o guarda que já tinha visto a banda, o psicólogo que queria era ouvir Iron Maiden, o teclista gigante que cantava João Pedro Pais melhor que o João Pedro Pais e todos aqueles que contribuiram para um dos concertos mais marcantes da minha curta carreira musical.
Em sete anos toquei com várias bandas e músicos, sempre gostei de tratar os que estão "atrás" e "à frente" como iguais. Na prisão eu fui tão músico como os outros, ainda que eu tenha tido escolas de música, baterias decentes, etc. e o meu homólgo só tivesse conhecido a bateria já dentro das redes de arame farpado.

hoje ia no autocarro...


solitude, originally uploaded by Alieh S.

...e enquanto lia a minha revista preferida (Time), que é americana, vi um texto sobre o Irão. Fala-se de forma fria sobre que sanções aplicar ao Irão, nas formas de estrangular a economia persa, etc. E de repente vejo uma foto de uma central de produção de Urânio que fica em Esfahan e lembrei-me da minha amiga Alieh, que lá mora, e da sua amiga, que também conheço, Mahdeyeh.
Fala-se descontraidamente da eventualidade de mais uma guerra, para dissuadir a Pérsia de ter um programa nuclear. Era só mudar o exército e os mercenários (ups, equipas de defesa contratadas) para o país vizinho. Mas é mais que isso, a cidade das duas amigas seria um alvo prioritário...
E aí, já na rua, fui olhando para os prédios, para o alcatrão, para as actividades e pessoas e imaginando as bombas caindo, em Lisboa. Não é provável que as bombas caiam em Lisboa mas é altamente provável que a cidade das minhas seja arrasada. E isto causou-me uma náusea, uma "dor de mundo", uma repulsa pela guerra, pela destruição, um ódio aos futuristas e ao seu nojento manifesto e uma certa simpatia pela leve denúncia de Heidegger à estetização da auto-destruição da humanidade.

"may your weapons rust in peace"

moonlit


the Moon, originally uploaded by Snood.


Que ninguém durma!
Que ninguém durma!
Você também, ó Princesa
Em seu quarto frio, olhe as estrelas
Tremendo de amor e de esperança

Mas meu segredo permanece guardado dentro de mim
O meu nome ninguém saberá
Não, não, só o direi na sua boca
Quando a luz brilhar

E o meu beijo quebrará
O silêncio que te faz minha


Giacomo Puccini

Lx boa


CASTELL DE ST JORGE, originally uploaded by begonart.


Deixei a minha cidade para viver na minha aldeia. Agora sou uma espécie de apátrida: deixei lá a vontade, a comunicação com a urbe, com a paisagem social. Vim embora para ficar a ver de longe, à espera que os bárbaros cheguem.

Deixei o meu coração em Lisboa.

La Isla Bonita (Avalon II)


La Isla Bonita, originally uploaded by Enolough.


Isolamento...
Sentir-se numa ilha, atravessar o mar apenas com quem sentimos ser parte de nós. Fora do contacto com o corpo social e dos olhares de todos os dias. Criar novas memórias num sítio sem angústias... deitar ao mar todos os medos.

Percorrer os caminhos de curvas e contracurvas, altos e baixos, deixar para trás o cansaço e fazer de uma viagem um ponto de reencontro com a paixão, que filtra o sujo, o impuro, o gasto, o incómodo.

Daí voltamos melhores, como heróis que nos contos de fadas vivem felizes para sempre, enfrentando todos os males.

debaixo do mesmo sol


sun tunnels, originally uploaded by popflower.


apesar das distâncias
ainda que as condições sociais e económicas sejam diferentes

todos vivemos debaixo do mesmo sol


quando estás longe
quando não te vejo com os olhos

estamos debaixo do mesmo sol


e debaixo do mesmo sol brilhamos interligados
vemos pelos raios de luz que desse mesmo sol saem
e com diferentes tonalidades vemos coisas em comum

em todo o lado que estejas
a todo lado que vás
estás
vais

debaixo
do
mesmo

S O L
O
L

-->

Avalon


Berlenga IV, originally uploaded by xita_primavera.


Isolamento...
Sentir-se numa ilha, levar para a viagem apenas o "eu", nu do contacto com o corpo social e com os outros de todos os dias. Lavar as memórias e angústias, os pensamentos... deitar ao mar as mensagens lidas.

Percorrer os caminhos de curvas e contracurvas como num jardim chinês, deixar para trás as imperfeições e fazer de uma viagem uma peneira que filtra o sujo, o impuro, o gasto, o incómodo.

Daí voltamos melhores, como o herói que nos contos de fadas passou pela iniciação, pelas provas de teste que lhe permitirão enfrentar o pior dos males.

Às vezes o pior dos males vive dentro do herói; às vezes o adversário está no espelho.

"No beginning or end
All of the roles we pass on through
I looked inside and I saw
My soul's my guide, I need to walk with you
I know this is where I'll stay
The world I've left behind
Has no place in my heart
I can finally rest
And live out the rest of my days
I'll never leave Avalon"

"Shores Of Avalon" in Keep It To Yourself (1999), Mullmuzzler

Brain storm?


Shelving Colapse 1, originally uploaded by cybrgrl.


isto amigos, é o que sentimos quando a cabeça lateja, ameaçando ora implodir ora explodir.

parece que todas as ideias fora ao ar e que só com muita dificuldade se consegue puxar de um conteúdo e aplicar a qualquer coisa. as perguntas demoram a obter resposta, os problemas parecem ameaçar desistência...

esta dor de cabeça maldita é atípica:
a) não costumo ter disto
b) é localizada em duas zonas mas nunca ao mesmo tempo
c) perturba pensamento e visão de tempos a tempos
d) parece não passar

shutDOWN


Moonlit Cruise, originally uploaded by konaboy.


Woke up and I wanted to make you my harbor
Made up but the moment dies

[cold light bleeding through the closed blinds
deep the quicksand
cage the soft hands]


Spaced out and I touch you to make myself calmer
You smile but the moment dies

[her breath threading the still night
kiss the cold lips
make the time slip]


[OSI (2003), "shutDOWN" in Office of Strategic Influence]

Pequenas descobertas


life finds a way, originally uploaded by Enolough.


Nos mesmos locais, nas mesmas pessoas ou nas mesmas situações é possível por vezes encontrar o pormenor que rebenta o "mesmo" como se fosse uma bola de sabão.

Para não cair em monotonia é bom olhar o mundo todo com olhos de comer - olhos que devoram tudo e um cérebro que tudo processa e compara com uma base de dados imensa. Descobriremos em cada olhar uma novidade, mesmo no vulgar e rotineiro.

Hoje quando voltares para casa faz o caminho por outra rua, quando fizeres o jantar experimenta outro ingrediente, quando falares com alguém tenta outra expressão, quando olhares vê mais do que o visível.

"Seja você mesmo mas não seja sempre o mesmo" (Gabriel, o Pensador)

Some Kind Of Monster


METALLICA - SBSR 07, originally uploaded by Mario Guilherme.


Marx tremeria se visse como a dócil música, arte que apela à contemplação, se transformou no seu pior pesadelo. Nalguns casos substituiu a religião, gerando legiões de fanáticos que seguem os seus ídolos e os defendem como se fossem deuses vivos. Um gesto no palco reflecte-se nos milhares de pessoas que assistem de forma alucinatória a um concerto.
Hurra! disse James Hetfield... ...e logo uma multidão respondeu, como se fossem legionários espartanos (do filme "300"): HURRA!!!!
O público canta sozinho as músicas, gestos e palavras sucedem-se em antecipação como numa cerimónia religiosa. Todos sabem onde se deve gritar, abanar a cabeça, chorar, ligar para o amigo ou namorada, etc.
Há até sinais de um fanatismo egoísta: gente que chama nomes aos seus ídolos para que façam isto ou aquilo. Adoram-nos e insultam-nos em busca das suas intenções para aquele espectáculo.
No palco meia dúzia de mortais (que também comem, dormem, vão ao WC, têm dor de dentes, etc) são assaltados por uma força maior que eles. Ainda que lhes doa a cabeça, ainda que estejam cansados da viagem, ainda que lhes tenha morrido alguém querido... ...tocam e cantam para deleite de milhares de pessoas. É-lhes exigido todos os gestos e rituais da cerimónia, é-lhes exigido um sorriso e boa disposição, empatia. Ainda que tenham tropeçado num dejecto de cão na cidade que se torna deles por um dia apenas têm de elogiar a terra onde tocam e dizer que este público é o melhor de sempre.
Criaram algo poderoso, maior do que a sua mera humanidade e agora têm de estar à altura do mio que inventaram para que não haja represálias por parte dos mesmos que os veneram.
Cada rockstar cria para si uma espécie de monstro que não está no palco mas na atmosfera. Nem sempre são mais livres do que o publico enjaulado à sua frente, por vezes são prisioneiros mesmo.

"Here I am, On the road again
There I am, Up on the stage
There I go, Playin' star again
There I go, Turn the page

So you walk into this restaurant
Strung out from the road
And you feel the eyes upon you
As you're shaking off the cold
You pretend it doesn't bother you
But you just want to explode

(...)

Out there in the spotlight, you're a million miles away
Every ounce of energy, you try and give away
As the sweat pours out your body, like the music that you play"

["Turn The Page", Bob Segar (interpretado por Metallica no álbum Garage, Inc., 1998)]

Lavar e dar de novo


Money Laundering, originally uploaded by tengtan.


Façam contas comigo:
O "Comendador" Berardo (só usa o título de Comendador quem precisa, já que meio país tem uma Comenda) está a fazer um mau negócio com a colecção de arte. Parece que se perde imenso dinheiro em expor obras de arte de que somos proprietários, cobrando um bilhete (excepto a funcionários públicos e sócios de clube de primeira liga, o que diz um pouco da sensibilidade deste coleccionador).
Os merdia nacionais elogiam, dão uma imagem de um santo que voltou ao seu país para espalhar boa vontade: a arte é dada ao povo, o Benfica é comprado mas com cuidado para não interferir no clube, os estudos sobre aeroportos são oferecidos sem nenhum interesse (http://www.portugaldiario.iol.pt/noticia.php?id=821297), etc. Tudo cheio de grandes intenções.
Da vida dele, sabe-se que nasceu pobre numa família de meia dúzia de filhos, foi para a África do Sul distribuir hortaliças e acabou por fundar uma empresa de exploração mineira: outro e diamantes. Se saltei alguma coisa foi porque essa informação não está divulgada. Tudo isto tem lógica assim mesmo.
Foi comprando arte, empresas, etc, tudo o que podia dar mais dinheiro até se tornar o 10º português mais rico e um coleccionador (ou será apenas proprietário) com uma colecção maior do que o Guggenheim!

Vejam a opinião deste colega bloger em A Lei De Murphy

studium


Lost without lists, originally uploaded by sleepy terry.

"words, words, words..." dizia Hamlet.

Estudar à pressa para que fique feito mais uma é só isso: estudar à pressa. E o que fica? Para que estudamos afinal?
Para cumprir disciplinas obrigatórias com grande frete? Ou para saber mais? Ou porque gostamos da matéria?
Ou nenhuma destas...

Está a acabar.

Está fora de moda estar na moda


photo op, originally uploaded by kelco.


A moda é daquelas coisas que nunca agarramos, como o pombo na praça, a sombra na rua, o peixe que desce o rio...
Alguém estabelece uma moda. Só se pode estabelecer uma coisa dessas quando ainda não é moda. As pessoas vão a correr comprar sapatos em bico, botas de metro e meio, roupas camufladas, etc e ficam na moda. É moda o que "está a dar", o que "se usa", que se "tem vendido muito". Acontece que as criaturas na moda ficam confortáveis por estarem normalizadinhos mas desconfortáveis porque a pessoa X tem um casaco igualinho ao seu (talvez porque foi comprado na mesma Zara, Bershka, Pull & Bear, Mango, Salsa ou outro Templo da Padronização equivalente).
Claro que as fábricas precisam de escoar produto e no ano a seguir as roupas "passam de moda" e a moda virou. Geralmente não vem nada de novo, apenas uma maneira de vestir com mais de 10 anos para que nem toda a gente mais nova se lembre de ter usado e para que toda a gente mais velha se lembre perfeitamente bem de ter usado.
Pessoas que gostam de estar na moda: não deitem nada fora porque tudo volta.
Falamos de roupas, claro, mas podíamos falar de CDs, de desportos, etc... tudo o que possa servir como adereço de uma representação social tem uma moda.
A questao é que a moda deixa de o ser quando se torna. (confuso?)

NS III


Through Her Eyes, originally uploaded by Enolough.


Tantas vezes te julgas menor, menos capaz, mais simples... mas eu conheço a complexidade imensa que há em ti, eu sei que és capaz de tudo quanto queiras e já me mostraste isso. Sei que lutas pelo que queres, vi-te conseguir chegar onde muitos invejam, vi-te escrever o que muitos podem ler com um sorriso mas que poucos podiam ter escrito.
Eu vejo todos os dias a maneira como sorris, quase demais, a um mundo que tem de ser cor-de-rosa à força (quando não é acaba por ficar à tua passagem). Eu vejo esse olhar que quer devorar um mundo inteiro num instante, como o instante em que o obturador fixou eternamente este reflexo de mim em ti.
Quanto mais te olho mais me vejo.

Per aspera ad astra!

NS I
NS II

Revolução pela observação

Circular entre espaços sociais diferentes faz-nos bem. É importante perceber como se distribuem as pessoas no corpo social em que nos inserimos, e é importante saber o nosso lugar para melhor compreender o que está acima e abaixo, o que é semelhante e diferente.

Longe de mim comportar-me como um Alpha de A Brave New World, julgando-me mais do que outros. Defendo precisamente que todos nós devíamos uma vez na vida varrer o chão, trabalhar no campo ou numa fábrica, comer refeições desesperadamente básicas, passar fome e sede, ter dores, etc.
Faria bem sentir uma vez na vida, pelo menos, que não sabemos onde estamos e que horas são, que ninguém à volta nos pode ajudar e que a comunicação com qualquer ser humano está impossível. Isto ia fazer com que cada um de nós desse mais importância ao outro, ao vizinho, ao pedinte, ao ministro, ao polícia. Afinal, o que é um indivíduo? Uma peça inútil enquanto indivíduo, já que outro pode fazer o seu lugar, desempenhar o seu papel. O indivíduo é uma parte do todo a que chamamos organização social, é uma peça de interacção. Existe individuo e individualidade em função de existir uma corpo maior que engloba cada indivíduo e lhe dá um sentido. Como só existe um eu quando há um tu, como só existe um nós se houver um eu mais qualquer coisa.

Varrer o chão, servir cervejas, cumprir horários... ...todos devíamos experimentar isto para saber que há uma outra vida. Todos deviamso experimentar isto para saber que existe algo acima e abaixo da vida pseudo-burguesa que eu e o caro leitor partilhamos em comum. Assim, além de ficarmos contentes com o pouco que temos, percebemos que tudo o que temos é pouco e que a mudança é possível.

Não se trata da defesa de uma espécie de socialismo-sorridente, antes de uma atitude de sorriso perante o social, que estou a defender. Temos de reconhecer as vidas, as lutas de cada um, da classe a que esse um pertence, e da sociedade em que essa classe se movimenta. Para poder viver mas também agir sobre o social. As revoluções de hoje são feitas porta-a-porta, como a venda de Biblias. São revoluções silênciosas, à margem, sao como o despertar de algué mpela manhã, sacudindo devagarinho mas provocando uma radical mudança de situação.


Textos que nos chocam...

...pela falta de rigor:

Crianças vêem facilmente filmes com 'bolinha vermelha'

É com este fantástico título que um jornal de prestígio como o SOL nos chama para uma notícia que me deixou de boca aberta. Não é porque as crianças estarem a perder a timidez, é por um jornal se atrever a chamar os leitores para um texto-lixo sem qualquer rigor. Esperávamos uma pequena análise, um mínimo de estudo sociológico? Talvez inquéritos, uma pequena amostra do universo das crianças do nosso país? Não...
O SOL presenteia-nos com as declarações de UMA professora primária que tem a seu cargo VINTE E DOIS alunos. Claro que isto chega para tirar grandes conclusões, a senhora pode afirmar que "as crianças" a partir de 22 crianças; pode analisar hábitos de visionamento de filmes das famílias a partir de 22 casos que podem ser 22 ficções, 22 estórias mal contadas, etc...

Era tempo de exigir algum rigor.

Link para o referido texto:
http://sol.sapo.pt/PaginaInicial/Sociedade/Interior.aspx?content_id=36901

Quem vê caras não vê profissões


strange padlock faces..., originally uploaded by floresita.


Vou citar-me a mim mesmo (assim não morro sem alguem me ter citado; tenho a certeza de que os textos estão relacionados; chamo a atenção para algo já escrito por mim): "nunca repararam como às vezes parece que conseguimos olhar muito bem para as pessoas comuns que por nós passam comunmente no dia-a-dia e encontrar traços comuns a outras pessoas por nós já vistas? como se houvesse uns quantos moldes a partir dos quais todas as pessoas são feitas... [in "uncanny / strage deja vu"]

Ás vezes parece que determinadas caras-padrão, com um mínimo de características físicas em comum, correspondem a determinados tipos sociais, profissões ou maneiras de estar na vida. Passava hoje pela rua a olhar para as caras (porque me esqueci do analgésico que costuma ser o leitor de mp3) e reparei como há caras tão semelhantes a outras. Os mesmos sinais, os lábios parecidos, o olhar, cabelos lisos ou encaracolados. E as roupas de uns e outros, quando semelhnates em físico, acabam por corresponder; e a música que ouvem, os filmes que veem, as palavras que dizem...

Será que determinados modelos de cara/corpo se encaixam em profissões e tipos sociais? (como se o tipo social chamasse esse corpo a si, como uma vocação)
Ou será que quando nos encaixamos num dado tipo social o nosso corpo e rosto se adapta, moldando o físico à imagem do psicológico? (no fundo, criando uma "imagem e representação" do perfil psico-social)

É uma questão que me continua a assaltar... a repetição, o padrão... seremos todos feitos de meia dúzia de moldes, como no "A Brave New World" do Huxley?

Será que os "corpos dóceis" criados pela modernidade (expressão de M.Foucault) são mesmo transformados fisicamente? Será que a sociedade cria corpos através dos papéis distribuídos? (e mais uma vez o livro de Huxley, em que tipos semelhantes à nascença eram modificados em laboratório para corresponderem fisicamente e intelectualmente ao seu futuro papel social)

Sugiro meditação sobre o assunto...

Exercício


Apple Bluetooth Keyboard, originally uploaded by Amber & Adolph.


Proponho um díficil exercício:
ao mesmo tempo que vires as letras que escrevi no ecrã, encontra a correspondente no teclado:

D
x
C

[se olhaste para o teu falhaste... não podes olhar "ao mesmo tempo" para o ecrã e teclado. Pergunta do dia: para que servem dois olhos se não conseguem ver coisas totalmente diferentes?Mas que fraco processamento cerebral nos deram...]

Big small things; Small big things. (to think and to sink)


, originally uploaded by P!xêĽ.


O ponto de vista é fundamental. A maneira como abordamos uma questão pode mandar uma conversa entre duas pessoas abaixo pelo simples facto de não se perceberem as tomadas de vistas. Não é que tenhamos de estar num mesmo ponto a olhar para o objecto em questão; é importante que saibamos que o objecto abordado é o mesmo, ainda que um veja a fachada e outro espreite a lateral.

Se estabelecermos bem as bases comuns (objecto) e as diferenças de abordagem a comunicação argumentativa entre duas pessoas muda completamente, para melhor.

É possível tratar um mesmo assunto de várias maneiras, é possível tratar vários assuntos da mesma maneira --> e é nisto que a ciência da Sistémica tem tanta beleza. O mais importante é mesmo a abordagem. E deve ser aí, na falta de se estabelecer claramente as diferentes abordagens, que grande parte das conversas e argumentações falhadas falham.

Não temos todos de ver em prespectiva, outros podem querer ver a planta do edifício, com a distância que isso implica. Podemos até falar de várias camadas de um assunto. E até aqui é importante definir em que camada estamos. Falamos da proporção? Da estética? Da funcionalidade? De um gosto/não gosto?

Nem tudo é de se aceitar e longe de mim defender um relativismo absoluto. Mas estar abertos às várias abordagens possíveis das várias camadas (quando as há) de um dado assunto é importantíssimo para que a comunicação se dê em níveis mais complexos.

Do revisionismo aos paradoxos do lado dos "bons"


E de repente o Sr. Mahmoud Ahmadinejad tinha razão e na U.E. passava a estar proibido negar ou duvidar do que nos habituámos a ver como a História da Europa nos anos 40...

De facto, a União prepara-se para aprovar leis neste sentido, vedando a liberdade de expressão e até de investigação para o futuro. Pensemos na Batalha de Aljubarrota: milhares de espanhóis a perder de vista e um punhado de portugueses, uma padeira combatente, etc... Mitos que a investigação posterior desfez, recolocando a verdade histórica.

Se for proibido apresentar novas verdades tudo o que teremos é a história feita nos dias que se seguiram à queda da Alemanha. História feita pelos dois países que haviam de dominar a cena política mundial nas décadas seguintes.

Não sou obviamente defensor dos revisionistas radicais que pretendem negar um grave estremínio racista ocorrido na Europa mas acho que a liberdade de expressão deve ser sempre concedida. Afinal de contas, se temos tanta certeza do que aconteceu como é que pode prejudicar a nossa sanidade colectiva o facto de aparecer alguém que diga o contrário?

E não é do choque de opiniões e descobertas que vem a verdade? Porque é que não se pode investigar mais para afastar a Europa desse fantasma? Era até um sinal de respeito para os mortos às mãos do cruel regime alemão das décadas de 30 e 40 do século XX.

"a União Europeia chegou hoje a acordo para tornar o racismo e a negação do Holocausto um delito em todo o espaço europeu...", pode ler-se no Público Online
E com isto estou já noutro lado... duvidar do holocausto ou defender os palestinianos é ser antisemita; conquistar territórios com tanques e bulldozers, destruir famílias conquistando um território de outra nação é ser o quê? Imperialista? Religiosamente teimoso?

Israel parece querer na Terra Santa o seu "espaço vital", á custa de outro povo. E o que queria o lunático Adolfo quando saiu da Alemanha para a Polónia?

Ar quente e húmido


há qualquer coisa de estranho para acontecer a leste daqui...
Israel? Irão? Rússia? Coreia? Ou mais perto, em Santarém?
Sempre a Leste, indica o pêndulo.

Sou só eu ou vocês também sentem que anda por aí uma série de acontecimentos ligados e desligados mas que acabam por se ligar sempre nas cores vermelha, branca e azul? (cores de UK, USA, Russia, Coreia, Cuba...) E a questão da energia na Rússia?

Sente-se aquela coisa no ar, como nos minutos que antecedem ao tremor de terra; como se sentiu antes da Grande Guerra nos anos 10 do século transacto; como se sente sempre antes do cataclismo; como se sentiu em Hiroshima segundos antes de tudo morrer; como se anda a sentir desde o virar do século.

Faltará muito? E depois é a tal anunciada guerra com pedras e paus? Ou não restarão árvores onde arrancar os paus?

O Grande Vazio


empty quarter garage 17-6-05, originally uploaded by localsurfer.


Rub' al Khali (الربع الخالي)
Este grande deserto tem muitas histórias para nos contar, desde as contadas em HollyWood à célebre banda desenhada de Carl Barks em que Scrooge McDuck se aventura pelo deserto com so sobrinhos.

Sugiro que se pense no facto de pessoas em condições semelhantes poderem ter vidas tão diferentes. Umas são a oscilação dramática entre quente e frio, são as grandes dunas mais altas do que a torre Eiffel e os pequenos graos de areia pontuados por uma ou outra forma de vida; outras são apenas o vazio, oscilam entre quente e frio sem mais, não como o chão carregado de imensidão do Rub' al Khali mas como o seu ar, ora sofucante ora gélido.

Uns aventuram-se pelo calor do sol, sujeitos aos ataques de escorpiões experientes nas andanças do deserto, outros deixam-se ficar na primeira sombra ou oásis que encontram (vendendo agasalhos porque na sombra faz frio), fora da realidade.

Enfrentemos a realidade, esmaguemos escorpiões, aguentemos a falta de água fácil...

...chamem-nos de camelos - mas só nós atravessamos o deserto!

We were soldiers once...


General, originally uploaded by Juanvaldaro.


São milhões de contos em roupas, alimentação, logística, transportes, equipamento, propaganda, DESTRUIÇÃO

e depois...

Milhões de contos em roupas, alimentação, assistência, comunicações, habitação, propaganda, RECONSTRUÇÃO

Heróis? Heróis são os polícias e bombeiros, professores e médicos que todos os dias travam guerras ao contrário.

Mas porque raio todos gostamos na mesma da guerra quando ela não nos bate à porta? Será que o telejornal a faz parecer um filme? Ou que o filme que parece um telejornal, de tão real, acaba por destruir as separações que eram necessárias?

Devolvam o horror à guerra, ela merece ser horrorosa, merece fazer vomitar os que não participam nela e os que a encomendam.

Paz

De uma pasta cheia de lixo:

Entre folhas de texto com pó e mapas de bit já sem cor encontrei um velho texto que me fez sorrir. Parece que fala sobre música e Música...
_________________



28-04-2005 - 10:48:49 AM

A música enquanto forma de expressão artística é pura e desinteressada. Não há ódio entre expressões de sentimentos nem que esses sentimentos expressos sejam ódio... Mas naquilo a que chamam mundo da música, que é na verdade o comércio da música, há muita sujidade! Em conversa com artistas, uns já famosos, outros nem tanto chegamos todos a esta mesma conclusão... Há rancores, ódios e interesses no "mundo da música", mas isso não nos deve espantar porque em tudo o que o Homem faz que seja possível haver pelo menos duas classes distintas todos querem invariavelmente chegar à classe superior. Isto é universal e aplica-se de uma forma ainda mais vincada a tudo o que envolva dinheiro ou reconhecimento público (que é a mesma coisa, ou quase). Ora acontece que o "mundo da música" se tornou desde meados do século XX num negócio, mais do que arte... Surge aqui a questão do profissionalismo: é profissional aquele que ganha dinheiro só com a música? Aquele que vive de uma forma de expressão? Então vamos cair no utilitarismo de criar música que sirva necessidades em vez de música que expresse sentimentos (arte). E se formos por este prisma, o músico profissional acaba por ser menos "profissional" que o amador porque o amador dá tudo o que tem pela arte e para se exprimir, enquanto o profissional dá o que tem de dar para receber dinheiro... Quero ser amador o resto da minha vida! Se ser profissional é abdicar do lado artístico, não quero... E a verdade é que os músicos são empurrados para a profissionalização no sentido que já falei, a do dinheiro e fama. A profissionalização que devemos procurar é a de conseguir viver só para a música e não a de viver só da música. Isso é o que eu quero.

Something's missing


Eu suspeito que há algo terrével e maquiavélico no facto de uma conhecida empresa de pesquisa na net (cujo nome acaba em E, tem segunda e terceira letras O, começa com G e tem GL antes do supracitado E) guardar as pesquisas de toda a gente para supostamente as usar na melhoria do sistema de pesquisa, para criar uma pesquisa pessoal mais ao encontro do cliente, etc. O verdadeiro objectivo disto e outros truques da dita empresa (nota: o objectivo de qualquer empresa, mesmo que seja invisível, é fazer dinheiro) deve ser o de saber melhor o que nós queremos para nos bombardear com publicidade! E mais, vender essa informação a meio mundo (cliques e letras escritas não dão dinheiro).

A verdade é que a dita empresa (não digo o nome porque como sabem o Blogger pertence à G... e é melhor não arriscar) tem um poder económico gigante, tem um poder de mudar o pensamento e atitude (vejam a maneira como o G... News muda a confiança no jornalismo, mostrando que as notícias eram todas iguais).

Agora eu sei que estão a rir-se das paranóias deste pobre diabo mas vão a Gxxxxx.com e vejam quando se carrega em mais serviços da mesma empresa: é tudo deles!! E o histórico de pesquisa? Está aí o que procuraram desde sempre... Uma base de dados sobre quem são vocês, quem são os iguais a vocês, quem é a humanidade!!

Ok, a verdade é que não podemos mudar para outro serviço equivalente porque são todos mauzinhos. Mas não se deixem enganar pela aparência brincalhona e colorida, se houver neste site uma diferença é para pior. Quando forem velhinhos pode ver-se o que andavam à procura na infãncia... e se fosse algo menos próprio? e se quiserem apagar essa fase da vida?

[Nota: sou utilizador registado da dita marca e pesquiso, na maior parte das vezes, nesse site.]

Looks like me (I like me)

See us sleep behind the glass
Unaware of crime
Will you wake us up before it is time

The red circle holds the only light
Break down my perspective
And notify everyone when the time is right
My mouth remains inactive

[Katatonia (2006), "Deliberation" in The Great Cold Distance]


Nunca me vejo no espelho porque quem vejo no espelho nunca parece EU, pareces-me tu... e é estranho quando somos os dois o mesmo, desconfortável quando pareces tão melhor que eu apesar de tão semelhante.

War


We are all POWs, arrested by the nightmare of a constant war that penetrates our lives no matter how distant we may be. We may not pay attention to it; we may live everyday with distant deaths but in the prices and in our deepest thoughts and inner peace we are somehow affected.

It's not an American war for oil, the world is at war for something different. Something that's deep in our culture, something old and dark. Religion, ideology and economics mix into a dangerous pot about to explode each and every day.

So we all might be sorry but the worst feelings are to the soldiers. No war is a soldiers war yet they are the ones who fall to the ground.

"Bodies fill the fields I see, hungry heroes end
No one to play soldier now, no one to pretend
running blind through killing fields, bred to kill them all
Victim of what said should be
a servant `til I fall

Soldier boy, made of clay
now an empty shell
twenty one, only son
but he served us well
Bred to kill, not to care
just do as we say
finished here, Greeting Death
he's yours to take away

Back to the front
you will do what I say, when I say
Back to the front
you will die when I say, you must die
Back to the front
you coward
you servant
you blindman

Barking of machinegun fire, does nothing to me now
sounding of the clock that ticks, get used to it somehow
More a man, more stripes you wear, glory seeker trends
bodies fill the fields I see
the slaughter never ends

Why, Am I dying?
Kill, have no fear
Lie, live off lying
Hell, Hell is here

I was born for dying

Life planned out before my birth, nothing could I say
had no chance to see myself, molded day by day
Looking back I realize, nothing have I done
left to die with only friend
Alone I clench my gun"

["Disposable Heroes" (1986), Metallica in Master of Puppets]

Hoje não escrevo aqui! (ups…)

Austerity


Austerity, originally uploaded by magic fly paula.


"keep it simple", é o lema de uma loja/marca de roupa para desportos radicais. esta foto documenta o poder do simples, liso, austero; mostra como somos esmagados pela altivez do simples e como isso pode provocar meditações, mais do que o enfeite poderia fazer. porque é na essência que se escondem verdadeiras questões (e o essencial NÃO é invisível aos olhos).

e quem de nós consegue pensar sobre matérias importantes sem limpar o ruído, o enfeite, o acessório? o que "O Principezinho" não resolve é: se o essencial é invisível aos olhos onde está ele? pois eu digo-vos, o essencial é o que os olhos não querem ver muitas vezes mas não é invisível.

get it right


I was half outside and half inside a dream
When i thought i heard your voice on my machine
Sang along had the song almost memorized
Liked the track so i laid back and let it fossilize

(i've got all of this on video
It just gets better every episode)

[...]

And it makes no sense to me
Unless i see it on t.v.
So just launch that satellite
And get it right

America i was blind but now i see
America right there in front of me

(sometimes the answer just comes)
(sometimes the answer just comes)

[Chroma Key (1998), "America the video" in Dead Air For Radios]

ninguém

a esta hora já ninguém está na internet, ninguém na rua, ninguém no telefone... já ninguém vive a esta hora

já foi

space hopper


Arecibo Observatory, originally uploaded by kirsch.

e um dia desligas o radiotelescópio e já não esperas que haja mais vida inteligente por aí...

e no momento em que viras as costas uma luz verde pisca no visor: estava na mesa do café, espécie rara, mesmo que não seja única.

há que tratar bem as amizades, podemos não as apanhar, perder ou mesmo deixar estragar. e há casos de encontrar pessoas certas, seja no amor, no trabalho ou na amizade

"step in fire of this fatal attraction
the opportunity comes once in a life time
communication to a parallel dimension
..."

crowd control


Shibuya Crossing at Night, originally uploaded by /\ltus.

há qualquer coisa de estranho nos jornais, revistas, na tv, jornais...
anda alguém a mentir com os dentes todos! cientistas que dizem que há aquecimento global provocado pelo homem, outros que desmentem; uns que dizem que há seres humanos quando há inteligência, outros quando há células; que a internet é o futuro, que a internet é um perigo; que é preciso ir ao espaço, que há muito espaço na terra; que devemos procurar ETs, que isso é perigoso.............................

FREE

que raio? e depois isto de as pessoas serem todas iguais ainda me atrapalha... porque é que há tanta falta de "look to your soul", de consciência de si mesmo como um outro, de aceitação do peso de uma sociedade, etc?
dias, festas, roupas, gostos, gestos, até pensamentos: tudo condicionado por fora com alguma liberdade controlada por dentro mas ainda assim o sujeito acha-se livre! ate eu me acho livre a escrever isto e escrevo baseado num cânone qualquer...

e o efeito borboleta? eu faço uma coisa e reflecte-se noutras mil, algo acontece no médio oriente mas acho que isso não afecta mais do que meia dúzia de árabes e talvez os magrebinos: É MENTIRA!!!

e a vigilância? livres? o maior vigilante da minha prisão sou eu (e tu também, ou achas-te muito livre?), adapto-me às possibilidades e faço esculturas reais a partir de blocos de pedras que eram sonhos

"Last man to the bottom
I consider myself FREE"

synchroscope


synchroscope, originally uploaded by dowcet.

viver a um ritmo acelerado e ter actividades que puxem muito do coração deve fazer mal...
horários, corridas, prazos, obrigações, tudo esgota o frágil ser humano atirado para a loucura do dia a dia ao ritmo da máquina.

[NB: o sincroscópio é um medidor de sincronização, não de velocidade; este está no máximo desajuste por estar rápido demais em relação ao aparelho a sincronizar]

point that phone at the floor


autunno, originally uploaded by pixy*.

obrigado Graham Bell!

falhas na matriz


Matrix, originally uploaded by threedots.


lembrando o post "as pessoas" retomo o assunto com variações...
às vezes damos connosco a pensar o quanto incompreensivas são "as pessoas" e que vivemos cheios de preonceitos à nossa volta (só à nossa volta; estamos imunes à expressão "as pessoas"), etc.

e logo depois caímos numa de "olha bem o chapéu daquele", repara como aquele tem um andar mesmo estranho, que pessoa convencida, etc... lá se vai a compreensão que "as pessoas" deviam ter! e eu explico: é que no fundo (e não é assim tão no fundo, é bem à superfície) somos pessoas como "as pessoas" e estamos sujeitos aos mesmos padrões culturais, não se pode escapar totalmente, só um bocadinho de vez em quando

são falhas

a excepção é não haver excepções

será que este chamado blog está a insistir muito na ideia de copia e repetição? está em todo o lado...

pois bem, o provérbio chinês aconselhava a não começar a mudar o mundo antes de dar uma ou duas voltas pela nossa própria casa: façamos isto e vamos encontrar um ponto de partida para mudar o mundo

desiludam-se, já não se muda o mundo com revoluções e grandes palavras, tem de ser tudo à boca pequena, aos passinhos ("one small step for a man / a giant leap for mankind")

and death shall have no dominion II

9:34 - telemóvel toca e acorda-me ainda sem o sono terminado, refugiado no sono
9:35 - a consulta no dentista de sábado foi desmarcada porque a médica faleceu...

algo mudou aqui...
um corpo deixa de agir no mundo, uma pessoa a quem confiava há 5 anos parte da minha saúde.
como é que alguém com 30 e poucos anos, cheia de nergia, sempre pronta a trabalhar, saudável morre de repente, sente-se mal disposta e nunca mais sente nada...
e correndo o risco de ser banal (nestas alturas todos somos): porque é que o Pinochet viveu tantos anos?


our time will come

(Descansa em paz e obrigado, S.)

home was good

"Go on ahead
Your story is just where you left it
Go on ahead
But I still can't believe you can't help it"


e há dias em que apetece arrancar o vidro ao relógio dar umas voltas aos ponteiros, tirar o cenário que faz de noite na janela e fazer adiantar para o dia a seguir...


"Hammering the walls
Sleepwalking falls
Overstepping out
Haunting the halls"


não sabemos o que fazer, parece que mandámos uma parte de nós pelo correio e nunca mais volta... cabeçadas na parede?
ah não, também não é o fim do mundo! é dormir que isto passa (tenho dormido tanto...)

the same river


the same river, originally uploaded by veganfreak.


não podemos banhar-nos duas vezes na mesma água de rio, mas o mesmo rio pode dar-nos sempre boas sensações com águas diferentes...

o facto de ser uma nova água e não a mesma só torna tudo melhor
é como uma experiência na vida, nunca há uma repetição mas as boas experiências podem ser igualadas e superadas na mesma situação

águas paradas não movem moinhos

if it rings again i think i'm gonna break it


Public phone, originally uploaded by Daryl F.


quando estou a estudar barulhos desconhecidos deixam-me nervoso, costumo deixar uma música qualquer que conheça mascarar os ruídos próprios de estar vivo

telemóvel vibra, perco a frase...
computador avisa esqueço o parágrafo...

estava a escorrer a massa quando tocou outra vez, toque de número que não está na lista

ia deixando a massa cair com a água que estava a escorrer
dizem que o esparguete veio de itália

"if it rings again i think i'm gonna break it"

vocês não ficam sensíveis a pequenos barulhos de máquinas nestes dias?

tik tik tik tik talk


Prague Clock, originally uploaded by ckl.

VIGILATE QVIAM NESCITIS DIEM NEQUE HORAM

NS II


Farewell Holland, originally uploaded by Stuck in Customs.


But if you lose your faith
Know that I am still your friend
And if the sky falls down
Know that I will still support you.

[Riverside (2004), "In Two Minds" in Out Of Myself]

uncanny / strange deja vu


Assembly Line, originally uploaded by squarefrog.

aviso prévio: estive a ler Freud, sobre a repetição e o desconforto do "sinistro" (que é estranho e familiar ao mesmo tempo)

nunca repararam como às vezes parece que conseguimos olhar muito bem para as pessoas comuns que por nós passam comunmente no dia-a-dia e encontrar traços comuns a outras pessoas por nós já vistas? como se houvesse uns quantos moldes a partir dos quais todas as pessoas são feitas...
a questão é que essas pessoas não têm afinidades familiares para explicar geneticamente o fenómeno.

estranho? é o uncanny!

eu próprio já fui confrontado com amigos que disseram ter visto alguém:
a) fisicamente semelhante a mim mas com personalidade diferente
b) semelhante em personalidade mas fisicamente diferente de mim

teorias explicativas: uma máquina produz corpos a partir de moldes; há umas dezenas ou talvez centenas deles para os sete biliões de pessoas que hoje existem. cada peça base é então adornada com pequenos traços distintivos (cor de cabelo, tipo de cabelo, olhos, lábios, sinais e tons de pele, etc) e segue para a fase seguinte.
depois do hardware é colocado na pessoa um software de personalidade destinado a desenvolver-se ao longo do tempo, consoante os estímulos; no fundo a personalidade está lá mas é adaptada em pormenores (gostos musicais e artísticos, gastronómicos, paixões, etc) consoante a experiência posterior.

depois disto a pessoa em potência é encapsulada numa matéria invisível que "possui" a célula resultante do encontro entre óvulo e espermatozóide. desta forma podemos afirmar que a linha de montagem nunca será encontrada por estar noutra dimensão do tempo/espaço a produzir constantemente.

há sósias de mim por aí mas eu sou úncio, como construçõesde lego feita com as mesmas peças em combinações diferentes

e vocês, não encontraram relatos do vosso sósia por aí? ;)
da próxima vez que disserem "fazes lembrar um amigo meu que..." pensem melhor nisto.

stay in the shadows

sou só eu ou vocês também sentem o panóptico a passar uma mão pelo vosso pescoço? olho e não está lá nada...

ah! uma câmara, um recibo de MB, um bilhete de aeroporto, um passe de metro, um telemóvel, um aparelho de GPS... era mesmo!

escaparam desta vez, não queriam nada... e o satélite lá em cima, que não vejo? tirou-me a matrícula?

sou só eu ou vocês também olham muitas vezes para trás na rua? também procuram logo as câmaras num espaço fechado? também olham para todo o lado quando param na rua? também não gostam de se sentar sem uma parede atrás?

olha! outra vez... têm o meu IP, mas não vou desligar a net!
sabem que gastei dinheiro a comprar legos e revistas de tio patinhas? bolas, era segredo isso!

o cartão das finanças e o do Sistema Nacional de Saúde, como não pensei nisso antes?

vocês não se preocupam, pois não? (será que está alguém à espreita a ver o meu aquário; deixei-o mesmo em frente à janela...)
sou só eu, não é?

mas eles também vos olham, vigiam, farejam... sabem TUDO, o que comem, o que vestem, onde andam, quanto gastam, etc... duvidas?


a única questão é...

...quem são eles?

turn to the light


STOP, originally uploaded by gary8345.

imaginem: vão no comboio, pensando na vida... querem ser melhores pessoas, mais simpáticos, atenciosos, quase santinhos, querem melhorar aqule mau feitio e a falta de paciêcia, etc.

enfim, querem virar-se ao light side, sorrir e sentir que é tudo lindo à volta...

no dia a seguir acordam e parece que tudo foi cuidadosamente preparado durante a noite para vos tramar os planos... tudo corre mal, tudo provoca a vossa raiva e impaciência...

e de repente começam a responder mal a tudo, vão buscar a vossa cara mais carrancuda, lá dentro dizem mal de tudo e todos e estão no outro lado do que queriam ser ontem... uma máquina de raiva e más respostas...

ah! é isso que sinto hoje... raios!

como no sinal aqui reproduzido, é melhor não atravessar com as luzes vermelhas. se um dia acordarem assim, não vão dizer o que tinham para dizer ontem, não façam o que queriam fazer, é melhor ficar sentado à espera que passe

above our heads


, originally uploaded by landslide baby.

Modem load and failsafe
Electric teenage dust
Hit the solvent keypad
Start the neural rust

Power on the highway
Data in my head
Surfing on the network
Part of me is dead

Every Home is Wired

Swimming in the circuit
Somebody has expired
This world will be the future

Every home is wired

[Porcupine Tree (1997), "Every Home Is Wired" in Signify]

Zephir


Centraal Station Amsterdam, originally uploaded by alabax.

se ele soprasse forte nesta direcção...

System Is Normal [SIN]


System Is Normal, originally uploaded by skippy13.

chateia por vezes que não se passe nada... ficamos tão habituados a ver na História os grandes acontecimentos: batalhas, bombas, revoluções, cataclismos, etc e depois não se vê nada disso!
vemos os filmes: acção, aventura, lutas, vidas que mudam em 120 minutos, etc e depois... nada!

sempre tudo normal, todos os sistemas a funcionar bem, a máquina de máquinas em que se tornou o nosso planeta parece não tolerar excepções (ou então carrega-se nos botões de calar alarmes, resolver problemas, etc)

se virmos bem, foi um processo progressivo mas rápido até (um século?) até chegarmos aqui. gente que não fala com medo (como os empregados de uma multinacional, depois de cinco anos de estudo borrados de medo que a gravata não agrade ao patrão), gente que não arrisca por medo (como aqueles que tinham um sonho mas que se arriscavam a perder uma vida com casinha, conjuge, telecomando e tvcabo)... é interminável!!

tudo calado, tudo na sua vida, tudo silencioso... QUE RAIO!!! NINGUÉM ACHA ESTRANHO NÃO SE PASSAR NADA AQUI??

é o Matrix? a CIA? a ONU? quem é que nos mete assim na linha, tão alinhados que nem carruagens numa linha de comboio?
é cada um de nós: o sucesso do panóptico para quem quiser dissecar bem os porquês do relógio, a conta, o número, a máquina ser tão importante. somos todos bateristas, todos no ritmo, num tempo certo, um ostinato eterno...

[devo ter acordado mais desconfiado hoje!]

eu sei que isto parece estranho, soa esquisito, cheira a gás, sabe a sal, etc... mas não tenho paciência para explicar melhor hoje, quem quiser que pense um pouco (sei que tu não vais pensar, não é? porque é que isto te havia de fazer pensar!?)

meditar sobre a vigilância, a mecanicidade da "vidinha"? sure you will...

And death shall have no dominion

And death shall have no dominion.
Dead men naked they shall be one
With the man in the wind and the west moon;
When their bones are picked clean and the clean bones gone,
They shall have stars at elbow and foot;
Though they go mad they shall be sane,
Though they sink through the sea they shall rise again;
Though lovers be lost love shall not;
And death shall have no dominion.

And death shall have no dominion.
Under the windings of the sea
They lying long shall not die windily;
Twisting on racks when sinews give way,
Strapped to a wheel, yet they shall not break;
Faith in their hands shall snap in two,
And the unicorn evils run them through;
Split all ends up they shan't crack;
And death shall have no dominion.

And death shall have no dominion.
No more may gulls cry at their ears
Or waves break loud on the seashores;
Where blew a flower may a flower no more
Lift its head to the blows of the rain;
Though they be mad and dead as nails,
Heads of the characters hammer through daisies;
Break in the sun till the sun breaks down,
And death shall have no dominion.

[Dylan Thomas]

NS


NS, originally uploaded by Bobo's.


passa sempre mais rápido quando o queremos apanhar

deslocado


Shipwreck Bay, Zante, originally uploaded by SnakeMountain.


fica na mesma, sempre na mesma
o mundo muda, tu não
tu és o tradicional
o conservador
o fiel às origens
o que ainda não se perdeu
o único

isolado

à tua volta tudo secou

...

barco imprestável em terra,
devias ter posto rodas a tempo

SOLSTITIVM


Lanyon Quoit at dusk, originally uploaded by Dancing Fish.

novo inverno, novo ano civil...

há dias em que apetece ver o sol nascer sem prédios, ouvir só o vento, sentir só a relva... dizem que a saudade foi coisa nascida no tempo dos nossos antepassados celtiberos, saudades de tempos melhores: herança de tempos remotos tão presente. mas eu, grão de areia, nunca tive tempos melhores!

circle of life


Hollands Spoor sunset, originally uploaded by mike nl.

todas as viagens, mesmo que tenham volta são viagens de ida sem volta porque nunca se volta ao mesmo sítio, ao mesmo tempo, nunca se volta a mesma pessoa.

vou e venho, não demoro, volto o mesmo, é rápido...
...sure you will

as viagens são eternas!